Muitos países da América Latina estão proibindo os plásticos descartáveis na procura por promover um estilo de vida mais sustentável.

O lixo plástico vem sendo motivo de preocupação há muitos anos nos países desenvolvidos. No entanto, na América Latina, novas leis que proíbem o uso do plástico descartável estão ajudando a conscientizar as pessoas sobre o impacto ambiental desses materiais, bem como sobre o uso indiscriminado deles.

Vários países da América Latina e do Caribe começam a criar impostos, proibições e inovações tecnológicas para restringir a produção e o consumo de embalagens descartáveis em uma tentativa de reduzir seu impacto nos oceanos e na fauna marinha. O Chile acabou de se tornar o primeiro país latino-americano a banir as sacolas plásticas. A Costa Rica planeja banir todos os plásticos descartáveis até 2021. O Rio de Janeiro foi a primeira cidade do Brasil a proibir canudos de plástico e Pinamar tornou-se a primeira cidade da Argentina a eliminar canudos e copos de plástico. Além disso, os estados mexicanos de Baja California Sur, Querétaro e Veracruz também se aliaram à guerra contra o plástico.

As empresas em toda a região estão fazendo mudanças drásticas para cumprir essas novas leis, alinhando-se às preocupações ambientais do consumidor. As empresas estão repensando os materiais de seus produtos enquanto exploram fontes ecologicamente corretas como o abacate e o vidro. A companhia mexicana Biofase começou recentemente a desenvolver canudos feitos a partir da semente de abacate, enquanto no Brasil, as marcas de beleza Simple Organic e Mentah se uniram para lançar um canudo reutilizável de vidro de borosilicato. Além disso, a Corporación Pascual, uma das maiores fabricantes de bebidas e sucos do México, planeja eliminar os canudos plásticos e substituí-los por bicos até 2019.

A indústria de foodservice deu sinais claros de que está lidando com o problema. No Brasil, a rede de fast-food Bob’s acaba de lançar um canudinho de chocolate para seus milkshakes e oferecerá versões em papel para outras bebidas, enquanto o restaurante TOKS, do México, parou de servir bebidas com canudos em suas lojas para reduzir o lixo desnecessário e o McDonald’s no Brasil também começou um processo de transição, oferecendo canudos apenas para os clientes que os pedem. Assim, a cadeia de fast-food começará essa implementação no Brasil e a estenderá a outros países da América Latina. Outros estabelecimentos como Outback e Abbracio pararam de oferecer canudos aos clientes e só oferecerão versões biodegradáveis para aqueles que precisem de um. A Starbucks também anunciou que eliminará gradualmente os canudos de plástico de suas mais de 28 mil lojas no mundo até 2020 e os substituirá por uma nova tampa reciclável.

Mesmo que a indústria de beleza e cuidados pessoais e nem a de produtos de limpeza tenham sido diretamente afetadas pela proibição dos plásticos de uso único, elas estão começando a responder às novas exigências do consumidor, bem como às pressões governamentais, desenvolvendo embalagens mais ecológicas. No Brasil, a marca da Unilever OMO acabou de lançar uma nova garrafa feita com plástico do litoral brasileiro, vindo de praias icônicas como Copacabana e de Fernando de Noronha. Já a marca Head & Shoulders, da Procter & Gamble, lançou um xampu cuja embalagem é feita de 20% de plástico recuperado de diferentes praias da América Latina. Além disso, a TRESemmé lançou uma nova embalagem feita com 20% menos plástico e o novo xampu da Seda, Pretos Luminosos, vem em frasco 100% reciclável, feito de até 1/3 de plástico reciclado pós-consumo e projetado com base nos princípios da economia circular.

O desafio para as empresas que querem implementar práticas e materiais sustentáveis reside no fato dos consumidores na América Latina ainda estarem receosos de pagar mais por um produto que proteja o meio ambiente. Por exemplo, 46% dos consumidores brasileiros dizem que gostariam de trocar embalagens vazias/produtos usados por um desconto em compras futuras, enquanto apenas 20% deles pagariam mais por produtos de marcas ambientalmente responsáveis. De fato, muitos consumidores na região são mais propensos a serem sustentáveis quando recebem um incentivo, em vez de fazê-lo apenas pelo meio ambiente.

46% dos consumidores brasileiros dizem que gostariam de trocar embalagens vazias/produtos usados por um desconto em compras futuras.

As campanhas educacionais continuam sendo a chave para convencer as pessoas na região de que os produtos ecologicamente corretos valem o preço cobrado. As marcas são desafiadas a fazer com que os consumidores olhem para além de si mesmos e vejam o impacto dramático da inação. Em uma região conhecida pela riqueza dos seus recursos naturais e por seus problemas ambientais, há um grande potencial para as marcas liderarem o caminho, oferecendo aos consumidores ferramentas para uma vida mais sustentável. A própria região pode servir como modelo de como a vida sustentável pode não ser tão desafiadora quanto se pode parecer. Por exemplo, a plataforma virtual The School of Sustainability, um projeto do Google e do Bancolombia, está usando uma ilha remota e minúscula na Colômbia, onde os moradores não têm acesso à água potável ou eletricidade, para ensinar as pessoas a viver com menos, encorajando elas a refletir sobre o uso dos recursos naturais.

As marcas da região têm uma oportunidade única de se tornarem líderes na transição de uma economia do desperdício para uma economia baseada no uso cuidadoso de recursos, onde os materiais são reutilizados em vez de projetados para uma vida curta.

Graciana Méndez é analista de Tendências para a América Latina, na Mintel. Ela tem mais de dez anos de experiência como trendspotter e escritora de conteúdo, tendo já trabalhado para empresas como a The Futures Company e a JWT Intelligence. Tendo morado na Argentina, México e Brasil, Graciana tem uma abordagem multicultural em relação a insights e tendências sociais e de consumo.

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